05 janeiro, 2007

Morte ou renascimento?

Mudar é bom, todos dizem. Tem até aquele poema "Mude, mas mude devagar, mude de direção, de trajeto...etc", algo do gênero, não me lembro bem agora. Eu estou, mais uma vez, mudando, naquele sentido de destruir, botar abaixo, para reconstruir tudo de novo. É claro, fica aquele alicerce, aquela essência que deverá ser a base da nova morada, mas de resto, o ato de demolir as coisas é um tanto quanto morte e um tanto quanto renascimento. Estou exatamente neste ponto: entre a morte e o renascimento, numa espécie de "purgatório", me preparando para tentar ser feliz de outro jeito, numa nova vida.
Ontem eu, que só conhecia aquele bichão de cidade grande, aquela mesma, cheia de arranha-céus, onde parece que todo porteiro é nordestino (Deus, todos têm sotaque, incrível!! O nordeste está em Sampa!!!), mas enfim, eu que só conhecia São Paulo pela Marginal Tietê, da janela do ônibus, e por debaixo da terra, andei sete horas seguidas pela cidade. SETE HORAS A PÉ!!!! Isso é mais do que andei a minha vida toda. Tudo para encontrar uns 60 metros quadrados de chão, ou fora dele, para me encostar. E quando estava ao ponto de não mais sentir as pernas e com os pés seguindo automaticamente sem que meu cérebro mandasse, parei e pensei: puxa vida, está tudo mudando e minha vida está se desintegrando. Foi a mesma sensação que tive hoje, ao começar a demonstar a minha casa em Campinas. Parece que alguma coisa dentro da gente se desmonta junto: certezas, planos, sonhos, cenas vividas antes, expectativas. Tudo vai por água abaixo para entrar outra coisa no lugar. Sim, os otimistas vão dizer, outra coisa melhor, mas no momento a sensação é estranha, muito estranha.
Sinto-me como se estivesse jogando todo o desenho da minha vida no lixo e ficando com uma folha nova, em branco, inteirinha para eu criar algo novo. Contraditoriamente, essa sensação acho que é a busca de toda a minha existência: não consigo passar uma semana inteira sem esperar que algo muito diferente de minha rotina normal aconteça. No entanto, como dói ter uma folha branca na frente né? Dá medo do desenho novo sair mais feio que o anterior, dá medo da tinta acabar, do lápis de cor quebrar a ponta, de não ter uma idéia tão original quanto antes....
É um fascínio e uma vontade de desvendar ao mesmo tempo, assim como me assusta e me fascina a cidade de São Paulo, que deverá ser minha nova morada....
Espero conseguir manter meu alicerce e uma boa bagagem de idéias e de bons amigos, além de histórias anteriores que me inspirem a fazer um novo desenho ainda mais lindo e mais colorido dos que os que fiz anteriormente de minha existência. É bem verdade que sempre fui péssima desenhista, daquelas que não conseguem nem desenhar casinha e têm que copiar os traços dos livros com um papel de seda por cima. Mas, se há outras formas de colorir a vida, acho que eu já descobri algumas e espero que elas me valham nessa nova jornada. Peço a Deus que, mais uma vez, me dê a inspiração necessária para aproveitar a oportunidade e renascer.

3 comentários:

Arnaldo Heredia Gomes disse...

Mudar sempre me excita. É uma mistura de vontade de encarar o desconhecido com o prazer de se livrar do que é muito conhecido.

Fiz esta mudança de cidade, no sentido contrário, há 5 anos. Foi bom. Está sendo muito bom. Mas apesar da saudade que não sinto, de muita coisa de São Paulo, morro de saudade de muita coisa que perdi.

Não se assuste com São Paulo e nem estranhe a maneira esquisita que a cidade tem de te acolher. Pode até não parecer, mas ela está te acolhendo. À maneira dela.

Anônimo disse...

vc vai arrasar lá, minha querida.

Anônimo disse...

CANTE-A!

Sampa

Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.