14 fevereiro, 2007

A utopia da perfeição (ou o medo do orgulho ferido)

Um dos piores defeitos que se pode ter é ser orgulhoso. E eu tenho esse defeito em escala máxima. Outro defeito, que aliás, pode ser caracterizado na mesma categoria, a do orgulho, é ter a prepotência de querer ser, mesmo sabendo que isso não existe, a perfeição em pessoa. No meu âmago, apesar de contraditoriamente achar a perfeição chatíssima, acho que me sentiria mais confortável com meu ego se eu fosse perfeita. Falar sempre na hora certa, no lugar certo, para a pessoa certa, e a coisa certa. Fazer sempre o que estão esperando que eu faça, ou melhor, mais do que esperam que eu faça e que esse fazer seja, ao mesmo tempo, tudo o que EU mais queria fazer. Ou seja: realizar a utopia de ser o máximo para mim mesma, principalmente, e para os outros, que não sendo o máximo para os outros, muitas vezes, não adianta nada.
Talvez tenham sido muitos aplausos quando criança. Uma análise típica de terapeuta: quando criança, primeira filha, por quase cinco anos a única, descobriram que a garota era afinadinha, que cantava música de adulto, que tinha facilidade para aprender melodias, para ser um papagaio perfeito. E dá-lhe aplausos, e gravações, e vivas! Menina prodígio! Primeira da classe, campeã nos concursos de redação, primeira colocada nos quadros de honra das notas escolares. É isso. Vou botar a culpa da prepotência de querer ser a mais que perfeita na educação que tive. Assim fica mais fácil e, principalmente, não fere meu orgulho, logo ele, meu principal, se não o maior defeito. E junto com ele vem a insegurança. O medo. Ou melhor, o pânico de não corresponder ao que eu espero de mim: corresponder a todas as expectativas do mundo!!!! Meu Deus, que chatice que eu sou! Vaias para mim! Muito aplauso às vezes faz mal.
Estou vivendo aqueles segundos em que o artista está no centro do palco, esqueceu o texto e tem que tentar reverter a situação para que, ao final do espetáculo, ao menos não seja vaiado pela platéia que espera, atenta e ansiosa, pela próxima fala. Ou seria minha a ansiedade de falar???

Um comentário:

Anônimo disse...

Vaias e aplausos fazem parte da vida. Só precisamos nos acostumar com ambos. A cada dose e cada momento. E ainda bem que você foi aplaudida na infância. Imagina se fosse o contrário...
Cuide-se. Questione-se. Cresça.
Beijos, mil. Até na testa...
Ronaldo Faria