21 março, 2007

O peso das coisas

Quanto pesa um problema, um quilo, dez, vários anos, uma vida? O peso é realmente o que vale a dor de cabeça, ou a nossa mente é capaz de carregar nas tintas o bastante para deixar que o mundo se torne escuro, negro, carregado, um verdadeiro temporal ambulante que nos acompanha mesmo nos dias de sol?
Todo dia de manhã - e esta sensação piora à medida que o relógio encurta mais o tempo de sono - sinto os problemas pesarem quilos. A vida se torna insuportável. Escovar os dentes, comer, ver de novo aquelas mesmas pessoas, aquele mesmo local...Chego a me imaginar sentindo as mesmas coisas ruins, o mesmo saco cheio, o mesmo estresse...Imagino a minha cara fechada e meu jeito azedo ao ouvir o chefe reclamando, ao ter de correr para não chegar atrasada de novo, a minha cara de enjôo ao ter que comer na rua mais uma vez, ao ter que enfrentar aquele ar condicionado gelado pra dedéu, enfim, ao ter que seguir a rotina da vida...Isso é simplesmente desesperador: sentir que a vida é sim uma repetição de coisas, que de tempos em tempos mudamos o circuito de atividades, mas com o passar dos tempos a mudança já é um lugar-comum sem fim, tudo de novo. E que tem coisas que nunca vamos mudar de lugar, nossas sensações, nossas reações diante das coisas. Por exemplo, a minha reação ao ser acordada com a luz diretamente no rosto,ou a minha sensação ao ter que fazer coisas que não estou a fim de fazer - e sempre vamos ter coisas que não estamos muito a fim de fazer. Todo santo dia. Porque o que hoje queremos fazer, amanhã não queremos mais. Sem contar o que nunca quisemos fazer, mas fazemos e iremos fazer sempre por necessidade. Putz!!!
Mas à medida que a luz do sol vai penetrando, o dia vai passando, seja o dia do relógio, das 24 horas, ou o nosso dia astral, depois de dois ou três da folhinha, descobre-se que o problema já nem está pesando tanto. Pensou-se tanto no escovar os dentes, comer, correr para o trabalho que, quando se vê, já fizemos tudo isso e mais um pouco. E nas brechas, deu até para se divertir um pouquinho, conversar com alguém interessante, aprender alguma coisa, dar risada...No final a gente se adapta até ao problema e acaba tirando proveito.
Não, não estou num dia conformista. Aliás, sou inconformista por natureza, sempre! A eterna descontente. Mas estou tentando me sentir mais confortável no desconforto que às vezes a vida se torna. Tentando me manter um pouco estável. Como alguém que faz ioga e tem que se manter estável numa postura e tentar meditar e relaxar, vencer a dificuldade, encontrar o ponto de equilíbrio.
Preciso redimensionar o peso das coisas, equilibrar a minha balança mental e emocional. Ou faço isso ou morro abarrotada pelo peso do meu coração e da minha alma. Ou faço isso, ou não conseguirei ver mais nada acima de minha cabeça a não ser nuvens.
Por falar nisso, até na Avenida Paulista tem arco-íris, sabiam? No meio da poluição, vi dois arco-íris no último domingo...
Até no cinza uma corzinha pode aparecer. E eu tenho que acreditar nisso. Preciso acreditar nisso.

3 comentários:

Anônimo disse...

Menina, passei aqui só pra te dizer boa madrugada. Também sou um descontente eterno. Alguém que vê imbecis ao redor, donos de um poder inexistente, senhores de si, certos da certeza que não há. Estou assim no jornal. Agüentando. Vivenciando idiotas. Gente que não sabe que, como diria o síndico Tim Maia, "nada é nada e tudo é tudo". Gente que disputa migalhas que nem delas são. Nossas "migalhas" são apenas do dono do jornal. Somos apenas pombos a pagar nossas contas com os restos jogados ao chão... Também "vivi" em São Paulo, trabalhando, na Rua dos Franceses, perto da Paulista, alguns meses. Mas não vi arco-íris. Dei azar. Ou serão teus olhos que os vê? Cuide-se. Seja. No dia 30 estarei aí, para viver a noite paulistana. Quem sabe não nos vemos? Cuide-se. E tenha a calma que eu já não tenho. Mas mantenha-se assim: incoformada e viva. Isso é que nos faz diferentes. Ao memos a nós mesmos. Beijo e carinho.
Ronaldo Faria

Anônimo disse...

Após cervejas e uísque, saco cheio, leia: inconformada e menos (revisar é necessário, mas fale isso a alguém sóbrio). Beijos.
Ronaldo Faria

Tatiana disse...

Querida,
A gente as vezes fica de saco cheio.
Normal, né?
Mas as vezes pode tentar ver a beleza, o bom, o saboroso, de baixo do cinza-rotina.
Um esforço.
Ó, vem pra cá neste sábado. Tem festa.
Vem. Vem