06 dezembro, 2007

Claustrofobia

Na imensidão da cidade, no mar de luzes que vejo daqui da minha janela em plena insônia, meu mundo é menor, claustrofóbico. Não passa daquela torre de TV que vejo todos os dias ao abrir a cortina, ou no máximo uns quatro ou cinco prédios abaixo. Passando isso eu já nem sei mesmo como chama o bairro, onde a rua dá, muito menos que pessoas possam morar ali. À medida que o mundo cresceu, a minha visão do horizonte parece ter diminuído. Antes via a cidade toda, tal como Fernando Pessoa via grande toda a sua pequena aldeia. Conhecia as pessoas, os lugares, andava a passos largos, seguros, como quem conhecesse bem o caminho. Depois o mundo foi crescendo e minha aldeia diminuindo. Passei a conseguir conhecer no máximo onde meu carro podia me levar, mas, ainda sim, a vida parecia mais arejada. Eram sete horas de trabalho, algumas prisões celadas durante este tempo diário, e depois eu abria as janelas da minha vida e conseguia enxergar um pouquinho adiante, em um amigo que não falasse só coisas do meu dia-a-dia na lida, em um copo de cerveja, em um pouco de som. Apesar do eterno sentimento de deslocamento no mundo, havia uma posição confortável, em que fechava os olhos e cantarolava para uma pequena platéia, ou no tempo em que ainda cantarolava no banheiro, ao volante, pegando a estrada ou rumando para mais sete horas de prisão. Um tempo em que conhecia além da rua da minha casa e ainda conseguia cumprimentar alguém na rua. O mundo era menor, mas minha visão do horizonte era um pouco mais privilegiada.
Ultimamente o mundo cresceu imensamente, mas não consigo enxergar além desta tela do computador, que parece ter virado a minha única janelinha dentro de uma prisão claustrofóbica. A vida foi achatada em pouco mais de 14 horas diárias, alguns passos que consigo dar com as próprias pernas, e outros quilômetros que consigo fazer a bordo de um ônibus ou de um metrô lotado. Sei que existe bastante coisa à minha volta, muito mais do que antes, mas assim, de ouvir dizer. Enquanto eu tô aqui, presa a essa tela, nessa mesma cidade há uma possibilidade de coisas: alguém deve estar numa festa muito bacana, outros fazendo som ou curtindo algo que talvez eu pudesse curtir. Mas eu vejo tudo isso por uma frestinha, difícil de enxergar e difícil de transpor...Parece tudo tão alheio, tão outro planeta...É raro quando ouço minha própria voz entoando alguma melodia. Perdi o hábito e não confesso minhas pobres notas guardadas nem aos azulejos do banheiro. O mundo realmente se reduziu tanto que eu sequer aperto o botão do som para ouvir algo que me transporte para outro plano que não esse aqui, em que ouço buzinas, sirenes, a vida dos vizinhos e a minha própria voz interna, tentando dar um jeito de respirar em meio a tão pequeno espaço que restou. Não, acho que não é depressão. Estou lutando como uma guerreira, como alguém que se sente numa situação limite mas tenta manter o bom humor, a coragem e a boa vontade para tentar tornar as coisas menos insalubres....Mas tem horas que ela vem, cruel e certeira, a tal falta de ar!!!! A vontade respirar profundamente, de maneira a encher os pulmões, oxigenar o corpo todo!!! É isso!!! Ando vivendo com pouco oxigênio, esquecendo até de respirar pra ver se consigo caber nesse mundinho pequeno em que me encontro, oprimido dentro de um mundo gigante!!!Tanta gente pra conhecer, tanto espaço, tanta possibilidade, e eu pisoteada, num cantinho de um apartamento de uma avenida entre milhões de outras, vivendo no que resta entre às 22h e o meio dia do dia seguinte, agarrada à lembrança da minha aldeia, aquela maior, em que via o horizonte e em que encontrava meus pares...Quanto mais coisa para olhar, menos a gente consegue ver...Não há detalhe que chame a atenção, não há nada que preencha o vazio. E a vida fica assim, parecendo uma noite de insônia, em que idéias repetidas nos atormentam, os problemas aumentam e cresce a ansiedade para que o dia amanheça, e com ele venha o sol e a claridade necessária para enxergar além das paredes do nosso quarto. Será que vou conseguir me adaptar a este confinamento? Muitas vezes me pego como um preso que conta os dias e os meses fazendo rabiscos nas paredes. Como agora...

2 comentários:

Anônimo disse...

Que bonito isso, amiga.
Eu acho que vc enxerga muito longe...
bjs.

Anônimo disse...

A vida, menina, é cheia de rabiscos... Resta sabermos dar a eles uma dimensão de quadro. Eu ainda não consegui. E talvez nunca consiga. Mas vou riscando meu mundo. Até a última ponta...
Ronaldo Faria