17 maio, 2008

Reflexões no táxi

Daí que foram uns 40 minutos para ir de um extremo a outro da cidade, outros 70 para voltar, e novamente mais de uma hora para ir de novo. Deu tempo de pensar na vida inteira, fazer contas e ver que não dá mesmo para sair do vermelho, a não ser por um milagre...Deu tempo de ir fundo na crise existencial, de achar o trabalho uma merda e, ao mesmo tempo achar que as coisas não estão tão mal assim e que tudo tem suas vantagens. Deu tempo de sentir saudade e pensar em alguém... Deu tempo de sonhar com ruas tranquilas, vazias, com menos carros, com uma cidade em que se consegue fazer 15 coisas num dia e não apenas 3 chegando atrasada a todas elas e ficando sem comer para conseguir dar conta. Estresses no trabalho à parte, dívidas à parte, o negativismo habitual à parte, eis que o "simpático" taxista que dirigia para a última parte da jornada daquela sexta-feira engarrafada abre a boca, de sono e de reclamações:

- Não durmo há quatro dias. Estou morrendo de sono... Pausa. Ficar sem dormir aqui nesta cidade não dá...

Ao avistar os amarelinhos, motivo pelo qual o carro não saiu do lugar por ao menos uns 10 minutos:

- É só para isso que eles servem, esses malditos. Trânsito aqui não tem mais jeito.

Depois de uma outra pausa:

- Você veio do interior? É louca. Eu quero é voltar para o Espírito Santo. Estou mexendo meus pauzinhos aí para ter um ponto no aeroporto lá da minha terra. Bem mais sossegado. Isso aqui é pra gente louca. Quem vem logo se arrepende. Não tem qualidade de vida nenhuma...É tudo uma ilusão.

A mensagem entrava pelos ouvidos de um corpo cansado, cada dia mais magro, de estômago vazio, alma desanimada, mente inquieta e coração bem intraqüilo...Ah, bolsos "preocupados", pois o taxímetro já anunciava que o valor da corrida não ia ser nada fácil...

Chegado o destino, questionando o destino, hora de pagar a corrida. O motorista "animador" fica brigando por causa de R$ 2,00.

É, isso aqui é uma coisa de doido mesmo...A gente às vezes é muito doido...

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