31 julho, 2008

Onde andará a menina do vestido de bolinhas?

Ela estava aqui, juro que estava. Estava agorinha mesmo, viva, sapeca, correndo diante dos meus olhos com seu cabelo encaracolado, escuro, suas perninhas grossas e seu vestido branco de bolinhas cor-de-rosa. Ah, tinha também uma espécie de babado plissado na frente, na altura do peito, que dava um ar todo engraçadinho, num formato de babador. A saia batendo um pouco acima dos joelhinhos gordos e redondos, a manga bufante como de uma princesinha. Estava aqui agorinha mesmo, ao lado de um homem barbudo, magro, de óculos. Os dois estavam sentados no quintal,brincando, talvez ele fizesse cócegas nela, não me lembro. Ou talvez ela brincasse com a barba dele. Não sei ao certo. Sei é que ela também tinha uma pulseirinha de ouro, com uma plaquinha retangular bem fininha, onde fora gravado seu nome. Para não deixar a pulseira cair, ela andava com o braço levantado, mãozinha pra frente onde quer que fosse, pois a tal jóia era um pouco folgada no seu corpinho e não pegava bem que caísse sobre sua mão.
Onde andará essa menina do vestido de bolinhas? Por quanto tempo será ela já anda desaparecida? Puxa vida, difícil acreditar que eu não mais a consiga encontrar para mostrar a vocês...Costumava ficar aqui, aqui mesmo, conversando com suas bonecas, dando nome a elas...Fazendo do cavaquinho um violão mais proporcional a seu tamanho... Fazendo recitais com o pai, ao violão, ela com dois microfones do aparelho de som Sharp, daqueles 3x1, raspando um no outro, contando até 10 entre uma música e outra, entrevistando os membros da família, fazendo "reportagens" sobre enchentes. No repertório do recital, clássicos infantis misturados a Tom Jobim, Fagner, Ary Barroso e Nelson Gonçalves.
Às vezes tirava o vestido de bolinhas e o trocava por uma calça jeans e uma camisetinha branca da hering, roupas certamente herdadas de seus primos homens...Vi a menininha agora mesmo, puxando uma carriola branca de flores no jardim, com os cabelos ventando em um balanço pendurado no pé de acácias ou no de fruta do conde do quintal...
Não era aquela menina que demorou meses para andar de bicicleta sem rodinhas? Aquela que fez o pai fazer uma casinha com a caixa de madeira em que veio a máquina de lavar roupas? Aquela que todos juram ter engolido uma palheta de violão que nunca apareceu? Aquela que falava "samboresa" em vez de "framboesa"?
Estava aqui, agora há pouco, diante dos meus olhos...De repente, sumiu. Quanto tempo será que se passou? Trinta anos talvez? Já??? Onde eu estava que não percebi o paradeiro da menina do vestido de bolinhas cor-de-rosa?

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