25 julho, 2008

Problemas afetivos, ou seriam afetuosos??

Esse negócio de abraçar, de pegar, de beijar, de deitar no colo e chorar, de emprestar a roupa de outra pessoa, sempre foi um tabu para mim. Vai ver foi porque minha mãe não bateu corda pra eu pular, não ficou fazendo cafuné na minha cabeça, não fez bolos gostosos e comidinhas e nem serviu lanches maravilhosos em tardes ensolaradas enquanto eu e minhas amiguinhas de escola estudávamos. Aliás, muitas vezes eu estudei na casa das amiguinhas que tinham as mães que faziam os bolos e suquinhos e etc. Eu até as achava chatas, previsíveis demais. Minha mãe sempre foi minha heroína, até porque herói sempre tem algo de inexplicável, de mítico, de místico, de misterioso, e daí que vira mais herói ainda. No quesito toque, meu pai sempre foi muito mais presente, de dar banho, comidinha, de apertar, agarrar, fazer cócegas, ensinar andar de bicicleta. Mas porque será que, em matéria de afeto, acabei sendo uma cópia da minha mãe?
Semana passada a minha irmã ficou doente e veio me dar um abraço. Ela nunca faz isso. Foi tão legal, tão legal mesmo, quanto espero ter uma relação assim com um irmão...Mas ao mesmo tempo, não sei, existe uma cerimônia...Vou na casa da minha avó, e só dela ficar segurando a minha mão e dizendo que pensa em mim vários minutos por dia eu já fico mal. Sinto-me cobrada, sei lá...
Fui num treinamento com vários colegas de trabalho e não consegui entrar naquele clima festa, energia, aproveite o momento. Sentia-me sufocada pelo coletivo...
Hoje minha irmã me deu um beijo antes de sair pro trabalho e eu voltei a pensar nisso...
E aí eu pergunto, não tenho problemas afetivos, tenho vários amigos que amo, amo minha família, somos próximos até demais, uma coisa extra relação pai, mãe, irmã, porque somos todos músicos, com alma de artista, com afinidades, com humores parecidos e tudo mais...Mas é engraçada esta minha dificuldade com os gestos afetuosos, meus e de outrem, especialmente aqueles que me são dirigidos...E é engraçado essa minha projeção na minha mãe, que foi quem ficou menos tempo comigo...Não esqueço as vezes que tentei deitar no colo dela e ela lá, toda durona, sem jeito pra caramba...É tudo muito estranho...
Contraditoriamente hoje, assim como ontem, e anteontem, e vários ontens anteriores, senti uma vontade de colo...e fui chorar no colo do meu namorado, a única pessoa com a qual eu não tenho problema algum em fazer e receber gestos afetuosos...
Acho que ainda levam várias sessões de terapia para entender. Ou não. Ao menos não me falta afeto, ainda que às vezes ele seja verbal apenas, ou meio que velado...
Quem sabe eu me conserto quando tiver um filho...

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E continuo fazendo minhas descobertas em Waly Salomão. Estou amando...

"Por aqui tem feito D dias lindos
Porcurar um outro AR
ALTERAR
E o meu ser se esgota na procura patológica
Do que nem eu sei o que é
E esse é
Não há nunca
Em parte alguma
Prazer algum
Mantra mito nenhum
Que me
Baste

ALTERAR"

"Por um novo catálogo de tipos" - 1974 - revista Pólem

Isso aí em cima é tão eu...

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