23 março, 2009

Abrindo as janelas e dando um grito...

Nem a poesia quer me receber. A falta me move e me paralisa. O excesso me angustia. A paralisia do tédio e a agitação da ansiedade se confundem, se alternam. E eu falo alto, eu falo alto, o que posso fazer se eu falo alto? Mas cada vez mais têm me mandado calar, a vida, os outros, eu mesma. Mesmo quando estou quieta eu falo alto e o meu som estridente quebra todas as minhas vidraças internas e eu sinto frio. Não consigo disfarçar. Antes não precisava, porque era engraçadinho e até estiloso falar alto. Hoje não pode mais. É feio. E não me encontro falando baixo.
Não consigo mais escrever, caramba, perdi isso. Só estas porcarias aqui. Meu telefone já não toca pra mim, a não ser para avisar que o limite de crédito do telefone já foi excedido e que a conta está estourada. Ultimamente eu só transfiro ligações ou recebo ligações como "pessoa jurídica". Não sou, estou. Não sou, eu faço.
Está tudo meio fora do lugar e ao mesmo tempo tudo um saco, um grande de um saco. Fico doente dia sim, dia também: insônia, rinite, gripe, rinite de novo, indisposição, dor de cabeça, tontura, desânimo. Tento academia, tento tudo. Cadê o tesão? Cadê a poesia? Tenho tudo que queria e ao mesmo tempo não sei o que quero, nem sei o que eu queria mesmo...O que eu queria mesmo? O que eu era mesmo? O que eu estou sendo? Sinto um sufocamento e um medo e uma culpa de estar reclamando de tudo porque afinal, tudo vai bem quando está bem e é crime estar mal quando tudo está bem. Como 2 e 2 são 4. Pra mim são sempre 5, ou 6, ou nada. E é isso. E as pessoas precisam da gente e a gente tem que segurar a onda. E a gente fica entre segurar a nossa onda e a onda alheia, e é foda. E aí chega-se à conclusão de que talvez sejamos fracos o bastante para não suportarmos não sermos o centro das atenções, para não suportarmos que "a vida é difícil", que "o feijão tá caro" que vc vive 90% em dificuldade pra se sentir 10% do tempo feliz.
Ontem no ônibus, de volta pra casa pensava como é foda ter que enfrentar meia hora de transporte urbano pra ir embora às 23h depois de dois dias no final de semana trabalhando durante 9 horas, aguentando gente, gente, muita gente. E daí eis que entra no ônibus um cara com violão em punho, aquelas gaitas com suporte na boca e começa a cantar um blues horrível, com inglês macarrônico do tipo "the book is on the table", e eu fico irritada com o cara naquela hora me importunando. E a senhora do banco de trás que também estava cansada - tinha feito 3 cabelos mais num sei quantas escovas progressivas em pleno domingo, só pra satisfazer a dona do salão, patroa dela - enfim, ela também fica puta. A do lado, que teve câncer e hoje é diabética diz pra ela ter paciência com o moço, que até canta bem, coitado. E ele termina depois de meia hora, uns 5 refrões e todas estrofes repetidas, xingando o público brasileiro que não dá valor à cultura, à música, porque não lhe deu sequer 1 centavo, ele, um artista, desempregado, que há 15 anos ouviu aquela música "linda e louca" e agora fazia uma apresentação de voz e violão "puro e natural". Foi como ele disse "faço violão e voz puro"! Enfim, estas pessoas todas ainda iam andar mais num sei quantas horas e já estavam na segunda ou terceira condução, mas eu me dava o direito de sentir mais cansaço ou o mesmo que elas. Qual o limite do egoísmo? Qual é a referência?
Somos todos seres esquisitos neste chamado "mundo contemporâneo"? Será que sou uma dessas pessoas chiques que têm estresse, ou doenças modernas?
Tenho 5 meses passados dos 30 anos e continuo achando pelo em ovo toda hora. Meus pais já não parecem mais ser aqueles super heróis tão fortes quanto me pareciam antes. O que eu queria antes, parece não valer tanto agora. A gente quer algo e no minuto seguinte ao conquistado, já sente o vazio de novo.
Enfim, isso aqui tá um saco. Tá tudo uma bagunça. Perdi a linha de raciocínio. Perdi a minha linha.
Eu grito, eu grito, eu grito...
"Fique quieta Lígia. Você fala muito alto e alguém pode te ouvir..."

Nenhum comentário: