"Eu só quero sentir, sentir, sentir..."

"Eu não quero pensar, pensar, pensar. Eu só quero sentir, sentir, sentir". Foi com uma frase destas, entre tantas outras iluminadas, que o mestre Hermeto Pascoal encerrou a entrevista que concedeu a mim e à equipe do SESCTV, incluindo a jornalista e apresentadora Patrícia Palumbo, ontem, dia 27 de agosto de 2009. Dia para ficar na história, na minha história. Falava no texto anterior sobre o privilégio de estar com ídolos de uma vida toda, e mais uma vez fui presenteada com uma rara oportunidade de estar com um sábio, não apenas da música como da vida.
Fui apresentada à música de Hermeto Pascoal por uma pessoa muito especial e querida, que um dia me presenteou com um disco do campeão. E desde então, só fui me apaixonando mais e mais pelo trabalho deste "Albino Maluco", como o chamava Miles Davis. Na verdade eu conheci a música dele antes, mas sem saber direito de quem se tratava: já amava aquele arranjo de flauta simples e maravilhoso do Quarteto Novo para o "Ponteio" do Edu Lobo, e aquele choro espetacular "Chorinho pra ele", que meu pai sempre girou na vitrola lá de casa. Mas me apaixonei ainda mais quando ouvi os sons de Hermeto e comecei a assistir seus shows e ouvir suas lições de música, que estão mais para lição de vida. É belíssima a forma como ele lida com o acaso, com o erro, com o inesperado. "Não vamos premeditar nada", é o que ele diz e até gravou em disco, para dizer que é preciso valorizar o sentido, a intuição, e com muita seriedade. Para ele as ideias são como uma nascente de água doce: é preciso deixá-las fluir, para que depois de águas turvas voltem a correr as águas cristalinas.
Termino a semana pensando em deixar em me permitir mais e agradecendo por ter tido o privilégio de estar com este ser absolutamente iluminado. Jamais esquecerei a imagem daquele homem de barba alva, brincando com um relógio que canta como um pássaro e improvisando na mesa como quem toca o melhor instrumento do mundo.
Obrigada Campeão!