18 outubro, 2009

De choros, do meu choro e de bolachas rodando na vitrola...

Já não sinto o lugar que um dia chamava de meu como sendo meu. Na verdade acho que nunca o senti como meu de verdade, exceto pelos discos girando na vitrola e a seleção que sempre gostei e ainda gosto de fazer, faixa a faixa, para matar a saudade do som chiado da agulha, o grave pesado nas caixas de alto-falante que já não se fazem mais. Troca um disco, depois outro. Nunca consegui ouvir um disco inteirinho. Sempre ansiosa por ouvir aquilo que mais emocionava. E vou de MPB4 a Originais do Samba, passando por Milton Nascimento, João Bosco, Elis Regina, Baden, um jazz nas entrelinhas para não perder o costume. Mato a saudade dos cachorros. Da cama que não é mais minha. Dos retratos na parede me lembrando quanto tempo passou. Mato as saudades das origens.
Porém a sensação de refúgio hoje me foge. Sinto-me estranhamente angustiada. Lembro-me de coisas que não gostaria. Cruzam-me os dedos no solo de flauta e não consigo tocar. A respiração fica curta, como sempre e quando vejo já não sei em que compasso estou. Sempre a mesma angústia, o mesmo problema em tocar em público, o mesmo problema em tocar perto do meu pai. Saudade de fazer um samba, mas já não me reconheço nos mesmos sambas de sempre. Quero mais. Quero tudo. Quero diferente. Estranho ir, voltar, girar, mudar, tornar a ser e ver que tudo permanece exatamente igual ao que sempre foi para alguns lugarese pessoas.
Eu barco ao léu no meio do nada do mar, querendo sempre chegar a um lugar diferente. Preciso dar um jeito nessa minha inquietude, ouço...
Dessa cidade já não sei nada. Não conheço ninguém. E, fora pai e mãe, cachorros, papagaio e violões espalhados pela sala de uma chácara gostosa, as referências que tenho são um tanto quanto dolorosas. De repente virei bicho estranho da capital, sempre tão estrangeira de mim e de tudo.
Até quando tudo está ficando bem eu insisto em ficar inquieta. Por que será que eu nunca consigo deixar um disco inteiro girar na vitrola? A agulha sempre tem que cair na faixa certa. Não tenho paciência para esperar chegar a música de que mais gosto.

Cidade Nova

Talvez ainda possa te encontrar
Longe do tempo e dos sonhos
Longe do luar

Hoje, venho de outra terra
Da cidade nova
Da beira do mar
Nem sei mais
Histórias quase nada
Nem sei mais
Dos sonhos que pensei
Não quero me lembrar

De tantas noites que perdi
Pelos caminhos de onde eu vim
De longe eu vim
Na viração
No vento nem percebi
Nos teus olhos a solidão
O tempo

Mas eu sei
Que ainda volta a clarear
Pra te fazer mais feliz,só
Só, pra te alegrar
É, só
Só pra te alegrar

Um comentário:

Unknown disse...

É natural, Lígia, que com o passar do tempo distanciemos de nossas raízes... Só espero que as boas recordações permaneçam como parte de sua história e construção de sua identidade. Seja feliz. Bjs.