25 março, 2010

Da minha eterna saudade de tudo

Sou uma velha no corpo de uma mulher de 31 anos. Nasci velha, gostando de bolero e música dor de cotovelo, tendo saudade de algo que não sabia explicar. Se mudo, mudo e mudo, é também verdade que a cada mudança levo uma raiz despedaçada, meio inteira, meio fincada ainda na terra onde estava antes. Prendo-me a lugares, coisas, ideias, contextos, pessoas. Vivo tudo tão intensamente que apesar de mudar constantemente e viver brigando contra a imobilidade e a estabilidade, sempre vou ficando um pouco grudada aqui e ali, num amor, num amigo, num apartamento onde não moro mais, numa música que me faz lembrar um tempo que não volta mais. Vou vivendo e, de vez em quando, choro meus pedacinhos colados por aí, perdidos de mim, como uma lagartixa que antes de morrer mexe todas as suas partes. É isso. De vez em quando as minhas partes se mexem longe de mim e dóem. Não é aquela dor de querer colá-las de novo a mim. Elas nem encaixariam mais, posto que eu mudei. São partes de mim sem as quais eu consigo viver e que possibilitaram que eu me reconstruísse nova, inteira, em outros lugares, coisas e pessoas. Mas é uma dor que diz que aquilo existe, que existiu. O simples fato de existir dói. E choro. Choro uma espécie de saudade, que não é a saudade de querer que aquilo volte, mas a saudade que é a constatação que o momento existiu, foi bonito, ou foi difícil, ou foi intenso, e passou, acabou, levando com ele um pedacinho de mim. É por isso que tenho dificuldade de me desligar até das pessoas que me magoaram muito, das que eu considero que não me compreenderam. É como se eu sempre guardasse a esperança de que um dia elas me compreendam. É por isso que fico triste quando mudo de emprego, mesmo que seja para um melhor, e de casa, mesmo que seja para uma melhor. Porque coloco tudo de mim em cada coisa que faço, em cada escolha, mesmo naquelas que pareciam não ser as certas.
Do ano passado pra cá tem sido uma sucessão de ciclos se fechando, mas sei que pra mim não é tão simples assim colocar um ponto final. É difícil descolar o que de mim vai ficando em cada história que vivo, em cada pedaço do caminho que percorri. Tem ciclos que estou conseguindo por ponto final apenas agora, depois de muitos e muitos anos!!!!!
Agora mais um término de ciclo. Dar tchau a um lugar onde trabalhei por mais de 3 anos, onde me encontrei profissionalmente, onde consegui trabalhar com aquilo que mais gosto na vida, a música, e principalmente a música instrumental. Minha segunda casa em São Paulo (tem horas que praticamente a primeira), onde ri muito, chorei algumas vezes, onde fiz amigos que são a minha família nesta cidade louca, onde consegui me apaixonar de novo...
Provavelmente eu vá ficar mais um tempo colada por aqui e, de vez em quando, um filminho vá passar na minha cabeça, lembrando de tudo o que eu vivi e dos meus pedacinhos que ficaram colados. Não preciso morrer para um filme passar na minha cabeça. Eu já tenho vários curta-metragens de cada época, cada fase desta minha aventura na terra. Às vezes eu penso se não seria melhor perder um pouco a memória, ao menos a emocional...

Nenhum comentário: