25 junho, 2010

A afrobossa do Paulo Moura


A música tocou Paulo Moura pela imagem. Em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, onde nasceu na década de 30, o então menino via encantado as fotos enviadas pelos irmãos, que estavam no Rio de Janeiro tocando em cassinos. Aos 9 anos, pediu para estudar música e ganhou do pai a primeira clarineta. Foi também com ele, Pedro Moura, que o clarinetista debutou no palco, tocando em bailes populares. Com autorização dos pais, interrompeu os estudos na segunda série e passou a se dedicar somente à música. Seu beabá foram as aulas de teoria musical e solfejo.
Foi uma carreira marcada pelas orquestras. Passou por várias, entre elas as de Oswaldo Borba, do Maestro Zaccharias, de Ary Barroso e do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Aos 23 anos, já escrevia arranjos, escolhia o repertório e ensaiava instrumentistas que mais tarde se tornariam, assim como ele, destaques da música instrumental. Com a mudança dos rumos da música mundial, a onda do rock´n roll, e o fim da era das orquestras dançantes, Paulo Moura passou a trabalhar como músico e arranjador na Rádio Nacional e, aos poucos, foi tomando outros rumos, aproximando-se da sonoridade das jazz bands.
Poucos sabem, mas Paulo Moura esteve na caravana de músicos brasileiros que, em 1962, ganhou o mundo em Nova York, no palco do Carnegie Hall. Ele era o clarinetista da turma do Bossa Rio, formado por Sérgio Mendes (piano), Pedro Paulo Siqueira (trompete), Durval Ferreira (violão), Gustavo Bailly (contrabaixo) e Dom Um Romão (bateria).
Em “Bossa Batuta”, o músico resgata este seu flerte com a bossa nova. Mais do que isso: registra a sua versão instrumental pós-Bossa Nova, pós-Carnegie Hall, e apresenta harmonias e melodias da época que maturaram durante todos estes anos. Uma delas é composição dele com João Donato, iniciada na década de 50 e finalizada apenas em 2008: “Na Barão de Mesquita”. Peça pregada pela história, ou só uma mera coincidência, perto da rua de mesmo nome, no Rio de Janeiro, o Centro de Referência da Música Carioca tem um teatro recém batizado de Teatro Paulo Moura.
Na apresentação que fez no SESC Pompeia, neste mês de junho, Paulo emocionou a plateia. A mim, particularmente, comoveu o momento em que ele, um mestre, rendeu suas homenagens a outro mestre, pra mim o soberano da Música Brasileira, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Com a clarineta em punho, ele declarou que gostaria de um dia ter tido a oportunidade de tocar uma música com Jobim: "Ele estaria sentado num piano igual a este e eu começaria a tocar assim", disse o negro de olhos verdes, com seu inconfundível chapéu, iniciando a melodia de Luiza, acompanhado do pianista Cliff Korman.
Podem me chamar de antiquada, mas ainda gosto da boa e velha música popular brasileira.

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