27 novembro, 2011

Falando de música

Ouvi de alguém muito mais do que especial que eu deveria voltar a escrever, algo de que gosto muito, e que deveria escrever mais sobre música, algo que amo mais que tudo na vida. Cá estou eu, de volta a este latifúndio tão abandonado, tentando desenferrujar os dedos e os pensamentos.
Devo confessar que fiquei horas tentando mudar o layout do blog, criar um blog novo, para começar com um certo frescor, mesmo porque por aqui já publiquei de tudo, todo tipo de divagação, e um bocado de música também. Mas confesso que estou presa às tais brechas que aqui me trouxeram. Não consigo batizar meu espacinho de qualquer outro nome. Talvez daqui a pouco venha uma inspiração e eu modernize, mude a cor de fundo, a foto do Miró, que eu tanto gosto, e até o título, mas por enquanto vou falando por aqui mesmo.
Começo, ou melhor, recomeço, falando de duas figuras do samba. As duas primeiras me vieram à mente depois de ter assistido ao show Feliz aquele que sabe sofrer, uma homenagem a Assis Valente e Nelson Cavaquinho, no SESC Pompeia. Ambos compositores completariam 100 anos em 2011. Não vou falar do show em si - bonito, elegante, mas talvez um tanto quanto cerebral demais, talvez pela leitura "paulista" de compositores cariocas, talvez pelos arranjos de cordas, dando um tom de "samba de teatro municipal" - mas sim das figuras citadas. Eu sou do tipo que primeiro cantarolo a música, depois aprendo a letra e só depois, bem depois, é que vou dar nome as bois. Por isso, acabei descobrindo que conhecia muito mais da obra de Assis e Nelson do que imaginava. E descobri também que, "Moreno fez bobagem" e "Brasil Pandeiro" à parte, sou muito mais o marginal da Mangueira, que andava com mendigos e não estava muito aí em registrar seus sambas, com seu jeito tosco de cantar e tocar violão, do que o autor de "Boas Festas" que tentou se matar inúmeras vezes e, numa delas, pulou do alto do Corcovado, ficando preso num galho de árvore. Nem melhor, nem pior, ambos são gênios, mas meu coração salta mais forte quando ouço "Rugas" ou "Tive sim". Luiz Tatit, que além de cantar no show, foi uma espécie de professor, fazendo comentários das obras dos dois sambistas, fez uma análise que achei bastante interessante: Assis Valente escondia a tristeza e cantava a alegria e, pra conseguir essa façanha, focava no externo. Assim, seus sambas são repletos de consoantes, falam do recenseamento de 1940, discorrem fatos em frases enormes, que só mesmo a Carmem Miranda conseguiria cantar - "chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor"...Já Nelson jorrava o sentimento em vogais longas, sentidas- "o soooooooooooooooollllllllllll há de brilhar mais uma vez"! Nunca tinha pensado desta forma. Um guardou para si todas as vogais e acabou morrendo depois de tomar formicida. O outro prolongou as notas em Rugas, Luzes Negras, mas tinha sede de vida e medo de ser esquecido: "me dê as flores em vida".

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Lígia, que bom que voltou a escrever. Melhor pra mim que acompanho o que escreve. E voltou a toda hein! Adoro Nelson Cavaquinho e sabe né, sou fã do seu pai. Sua mãe então, querida professora minha.Abraços.