25 maio, 2012

Sou mãe, simples e complicado assim

É isso. Ontem eu era só uma criança, sonhando que podia ser tudo e que moraria no Rio de Janeiro, tendo Tom Jobim como trilha sonora. Ontem eu era a moça meio perdida, carregando uma tristeza profunda dentro de si, uma saudade de não sei o que, tomando algumas doses de rum pela noite e chorando e rindo com intensidade. Ontem eu era a jornalista tentando se encontrar numa redação. Ontem era a namorada incompreendida, a mulher com um amor impossível, aquela que subia no palco e cantava no chuveiro com todo o coração, entregue à música que parecia sempre inatingível. Hoje olho para o rosto do meu filho, que tem 20 dias de vida, e não sei mais qual dessas eu sou, se ainda sou todas elas ou se se perderam dentro desse projeto de mãe que agora se cria, na marra, no tranco, como flor brotando na marra por entre pedras. Para quem tinha medo de uma vida ordinária, normal, uma vida de verdade, destas vividas e não imaginadas com toques poéticos e musicais, até que eu fui longe. Pari uma vida real, literalmente. Depois de tanto imaginar para mim mil vidas, mil cenários, mil trilhas sonoras, depois de sentir saudade sempre e tanto do que nem sabia, depois de ter tido dificuldade de me despedir e me desfazer de cada capítulo de minha vida, depois de ter me prendido tanto a cada paisagem que fui vendo pelo caminho agora encaro meu filho, vida pura, linda, porém dura, nua, crua, com direito a choro sentido, noites mal dormidas, responsabilidade para toda vida, seios doloridos, olhos embotados de sono, dedicação exclusiva. Agora preciso fazer por ele, não dá mais para imaginar mil cenários, e nem ensaiar o que vou ser. Eu simplesmente sou e faço, sem tempo para ensaios, imaginação, planejamento. Sou mãe. Simples e complicado assim.

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