08 agosto, 2008

Complexos de filha desnaturada??

Por que é tão difícil para mim dizer "olha, esse final de semana eu não quero ir pra aí", sem achar que estou dilacerando a pessoa do outro lado da linha? Por que essa eterna preocupação em não magoar os outros, se a gente sempre acaba magoando mesmo? Qual o equilíbrio, o limite, entre magoar e ser sincero? Será que as pessoas vão mesmo achar que a gente não gosta delas? Por que essa tristeza que me invade pela tristeza dos outros, essa necessidade de que o mundo inteiro vibre junto, na mesma sintonia, pra gente poder ficar bem? Como cortar esses cordões umbilicais e conseguir dizer, para mim mesma, que o que importa são os sentimentos, o que determinadas pessoas representam pra mim e vão representar sempre? Por que essa eterna culpa pelo mundo, meu Deus!!!
Sei que não posso andar grudada em todas as pessoas que amo para o resto da vida, mesmo que estas pessoas sejam, simplesmente, e principalmente, meus pais. Sei que é a ordem natural das coisas que "os filhos sejam do mundo", mas por que sinto uma pontada de culpa quando os vejo dizer assim, "como quem não quer nada", que "a vida é assim mesmo e que os filhos são do mundo"? Por que não consigo dizer tudo o que penso e o que sinto, sempre com medo de quebrar um cristal,o cristal da nossa relação, do nosso amor e da nossa cerimônia?
Tenho quase 30 anos e sempre que tenho que dizer que não vou visitá-los fico com peso de consciência. É ridículo, porém sério, seríssimo. Porque preciso me acostumar com esta ruptura e também com o fato de que eles fiquem um tanto quanto chateados com isso. Mas é a vida e eu não serei uma filha mais desnaturada do que o resto dos filhos do mundo se preferir não estar com eles, ao menos fisicamente, em um determinado dia.Por que logo terei eu a minha família, as minhas coisas (aliás, isso já começa a acontecer), e eu terei que fazer opções, que não significam dizer "gosto menos de vocês"...Até este escrito de "mea culpa" me soa também ridículo, mas já que me travo com as palavras verbais...
Um pouco que dói não é a consciência, mas a percepção de que sim, somos seres individuais e que, em algum momento de nossas vidas (mesmo que demore e seja só aos 30) a gente começa a sentir a necessidade, a obrigação de se perceber único, só. A sacar que nossas emoções são nossas e que as dos outros são as dos outros, ainda que seja para mim tão difícil separar as emoções minhas e dos meus...Um eu meio que quero pegar no colo, não sei por que...O outro eu quero ser o melhor possível para provar eu também não sei o que...Os dois eu tenho medo de magoar ou decepcionar...
Será que conseguirei desgrudar dos meus filhos, se os tiver um dia? Será que alguém "tem" realmente filhos? Acho que não "temos" ninguém de verdade...Só amamos,e pronto, mesmo que às vezes esse amor soe de um jeito meio torto, meio desafinado.
Se conseguisse sentir puramente somente o que EU sinto, diria que tudo que mais quero agora, ao menos nos próximos dois dias, é descansar, descansar e descansar. Ter um tempo só meu.

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