10 novembro, 2008

Só umas agulhadas...

Vai à acupuntura porque disseram que as tais agulhas funcionam pra aquela dor de cabeça que ela tem todo dia, quase sempre no mesmo horário, à tarde, quase sempre depois de alguma tensão de trabalho. Pode ser um esporro da chefe, a cara amarrada de um colega de trabalho ou uma merda das grandes em algum projeto. E também para aquele cansaço, sabe, aquele cansaço...Deve ser porque tem dormido fora de hora, acordado cedo pra ir ao inglês - por que às 7h da manhã? não tem outro horário, responde. Deve ser porque,para tentar não se estressar muito e ficar com o corpo um pouco em dia, acorda cedo, apesar de ter trabalho até às 23h no dia anterior e ter ido dormir a 1h porque ficou lendo aquela biografia, ela decidiu ir pra academia. Pelo menos tem a sensação de que não vive só pra trabalhar. Enfim, pega o dia de folga, o único na semana, e vai pra acupuntura, pra ficar parecendo porco-espinho, porque dizem que umas espetadas resolvem dor de cabeça, cansaço e também aquele probleminha de sempre com o intestino, que enlouquece com a sua alimentação nada saudável. Ah, e a ansiedade, dizem que é bom pra ansiedade. Chega no consultório e tem uma porrada de gente na sala de espera. Deve ser mesmo bom pra ansiedade, porque tem que esperar mais de 1 hora pra ser atendida, na primeira e na segunda sessão. Enquanto isso, folheia revistas de decoração com salas de estar e home theaters que nunca vai poder ter na vida, nem que nasça de novo. E vê a moça cochilando com a Folha de S. Paulo nas mãos, a velhinha apanhando pra atender o celular, os Simpsons passando na TV e um velho, cabelos bem grisalhos, olhos desconfiados, a encara muito, principalmente depois que ouve uma conversa dela pelo celular. Entra na sala e a médica japonesa dá aquele sorriso de comercial de pasta de dente, pergunta se está mais calmo - apenas uma semana depois de meia dúzia de agulhadas - e diz que a vida é bela e que nós é que complicamos. Espeta 3 agulhas na cabeça, duas na barriga, duas em cada braço e duas em cada perna. Diz pra ela ler O Segredo, e também assistir o DVD e recomenda dois outros livros do tipo "Alcance seu sucesso". Diz que ela não deve mais comer massas, leite, queijo, café preto, refrigerante e doces. Basicamente a sua alimentação habitual. Pede que ela coma frutas, verduras, legumes, frutas oleaginosas, e chás. Ela chega em casa e luta para comer uma banana. Quando o faz, acha que já cumpriu com o dever do dia. Durante a sessão de acupuntura, espera, ansiosamente, passar aquela meia hora interminável em que a acupunturista pede que medite e limpe seus pensamentos, enquanto as moças da clínica falam pelos cotovelos nos corredores. Ela ali, imóvel, com as agulhas espetadas e o pensamento insistindo em pensar milhões de coisas, inclusive como está demorando pra acabar aquilo ali e se perguntando pra que?
Depois de passar no supermercado, chega em casa e toma o remédio homeopático para a tpm, enquanto olha pela janela o céu poluído. E aumenta o som do rádio para cobrir as buzinas que vêm da avenida, vinte e tantos andares abaixo.

Um comentário:

Ricardo Pereira disse...

... ou como não dá para ser zen no mundo moderno.

Pelo menos virei VIP em alguma coisa. Considero um privilégio poder dar uma olhadinha no seu blogue sempre que quiser.