27 janeiro, 2009

Saudades do barulho

Esta noite perdi o sono. Acho que foi porque senti saudades do barulho. Saudades do som dos carros derrapando na avenida 23 andares abaixo. Saudades do quarto que nunca ficava escuro,nunca,porque tinha uma janela gigantesca, de vidro,sem persianas,de onde via através da cortina as luzes da torre de tv que ficava bem à frente do prédio,como uma torre Eiffel particular. Saudade daquela balbúrdia de manhã, daquela paisagem cosmopolita tão sui generis. Saudade de encontrar com a Elke Maravilha nos corredores, de ver os gays e drag queens nos espiando pelas janelas das quitinetes, e eu a eles. Saudade de não saber quem são meus vizinhos e das pelo menos 10 festas que dei na gigantesca sala daquele vigésimo terceiro andar sem que ninguém me incomodasse. Saudade da casa sempre cheia de hóspedes,que tanto me irritavam...
Mas sou uma grandissíssima de uma doida, porque hoje sim eu tenho qualidade de vida. Moro num bairro que tem saúde até no nome. Meu apartamento parece uma casa de bonecas de tão bonitinho, com direito até a sacada - eu sempre gostei de sacadas - passarinhos cantando,árvores na rua com trânsito apenas local,quarto escurinho,silêncio tão ensurdecedor que o único barulho é o yorkshire do vizinho. Cada vizinho que me vê no elevador pergunta o meu nome e o apartamento, e já sei e quem são meus vizinhos de corredor. É um prédio de famílias, com pai,mãe,filhos e até avô e, no máximo, uma mãe solteira, talvez. São japoneses, em sua maioria. E tenho garagem, veja, garagem!! Com direito a um vizinho que coloca capa no carro porque sai umas 2 vezes por mês, no máximo.
Como nas horas certas e tenho um homem que me ama e que eu amo me fazendo companhia todos os dias. ATé TV a cabo eu tenho agora, e minha cozinha é repleta de armários embutidos. Não preciso mais torcer minhas roupas na mão porque agora tenho uma máquina de lavar e uma faxineira que me chama de "dona" e "senhora". Minha irmã não vem me visitar porque diz que é um pouco longe, mas tudo bem. Eu sempre posso ir para a Avenida Paulista. Sou saudável, tenho emprego, sou feliz.
Às vezes eu perco o sono com saudade do barulho. Acho que o silêncio me dá ansiedade, só isso. Mas deve ser normal, não?

Um comentário:

Tatiana disse...

Te fiz um convite lá no blog...