Feliz Natal. Frases soltas, frases prontas, a leitoa pururuca, o cheiro de peru, as mesmas piadinhas, as mesmas observações famíliares, as mesmas críticas, o mesmo ritual, as mesmas falas, as mesmas deixas, a mesma maionese, a mesma geladeira repleta de "restos de ontem" que darão para o resto da semana ou até o final da primeira quinzena do ano vindouro. A mesma certa melancolia no coração, aquele sentimento meio vazio como as ruas da cidade pequena onde não se encontra nenhuma padaria ou boteco aberto. Talvez só as igrejas estejam aguardando os fiéis com suas portas escancaradas. Corro, corro, corro o ano inteiro e sempre que paro nesse dia é a mesma coisa. Um tédio, uma vontade de fazer num sei o que, menos de não fazer nada. Uma certa necessidade de falar com pessoas que não falo há tempos, mas o que?Pra que? Uma certa nostalgia e saudade de tempos e pessoas que vão saindo de nossas vidas aos poucos...Como se na vida tivéssemos que ir nos livrando das bagagens ao longo do caminho para conseguirmos continuar andando.
Sinto um calor que me percorre, uma vontade louca de vento no rosto, janelas abertas, som, música nos ouvidos. Acho que para tirar esse meu tédio e essa minha tristeza habitual de Natal eu teria que parir uma música, ou algo que o valha. Estou completamente prenhe de inquietude, uma inquietude que me sufoca.