04 janeiro, 2010

A bolha estourou

Virei o ano pensando em que eu sou realmente. Há alguns anos, ou meses, vivia pensando que não conseguia retirar de mim a camada de expectativas e construções que outros haviam depositado pouco a pouco. Agora pareço um pouco mais clara pra mim mesma, mas a sensação é de alguns motivos de minha inquietude estão mesmo na minha essência, naquilo que eu sou, e o pior, naquilo que eu não sou ou naquilo que não sei se sou.
Sou um bicho muito do esquisito que se coloca sempre em situações psicológicas de conforto, ao mesmo tempo que busco o fogo como uma masoquista louca. Sou do tipo que tinha tudo pra ser chamada de anti-social: não curto qualquer música, não curto qualquer papo, não curto qualquer ambiente. Não gosto de jogos de baralho, não gosto de interação com pessoas 24 horas por dia. Gosto de tudo um pouco e muito, sabe como é? Várias coisas, mas coisas diferentes, e cada uma a seu tempo. E quando estou nas coisas eu tenho que ESTAR nas coisas. Não tem meio termo. Quando eu me vejo em ponto morto tenho uma síndrome do pânico, uma vontade acelerar pra outras paragens. Gosto de conforto, gosto de atenção, gosto de aplauso. Deve ser coisa de metida a artista sem ser. Gosto de comer porcarias, de ficar sozinha, de ficar introspectiva. Olho pro mar e pro verde e sinto vontade de fazer uma música, de só olhar, de falar coisas bonitas, de ouvir a natureza. Gosto de mato, de andar, sentir o cheiro, mas voltar pra casa pra tomar meu banhinho quente em banheiro limpinho. Gosto das coisas do meu jeito e me custa fazer do jeito dos outros. Tenho certas melancolias inexplicáveis, geralmente uma vez por dia, ou mais. ÀS vezes passa dias sem que elas me visitem, o que também é muito bom. Ao mesmo tempo eu posso ser a pessoa que joga sinuca, que fala alto, que gosta de dançar, que batuca um samba, que imita os outros e dá risada, que se diverte e é divertida.
Começo o ano me perguntando que tipo de pessoa eu sou e que tipo de pessoa eu realmente quero ser em 2010. Começo o ano me perguntando se vai dar pra conciliar ter gente por perto e ficar comigo mesma, ser eu e ser dois e ser dois em um, planejar viajar sozinha ou constituir família, me entregar às melancolias e poesias e viagens internas que faço ou pregar os pés no chão como fazem quase todos os mortais. Por que será que me dói tanto o excesso de concretude e realidade com que as pessoas encaram a vida? Já reparou que as pessoas não falam de música, nem de poseia? Elas só falam das coisas que podemos ver e tocar, o tempo todo.
O mundo não é uma montanha russa e não acontecem coisas boas e poéticas e bombásticas a toda hora, diz sempre a minha mãe. Por que raios eu não me convenço disso, ou melhor, não me conformo com isso?
Acho que brinquei muito sozinha quando criança, falei muito comigo mesma. Agora não consigo ouvir o mundo e, quando ouço, me entristeço. Sinto-me uma ilha. Não tenho paciência com os outros, não tenho paciência com a diversidade, com o diferente, com o excessivamente real e prático.
Talvez eu seja um serzinho arrogante que construiu para si uma bolha que agora se apresenta um tanto quanto frágil...A bolha está estourando e eu não sei se estou preparada para ser uma pessoa normal, dessas que pegam fila de banco, pesquisam o preço da gasolina, fazem churrasco aos finais de semana e prometem emagrecer no ano que entra. Mas afinal, não é isso que é a vida?
Um dia ainda morro de não saber o que é vida.

Um comentário:

Lz disse...

Vim parar aqui procurando a letra de Retiro, acabei lendo este post e fico na obrigação de dizer que comigo também é bem por aí. :)

Bom ano pra você, estranha!