08 outubro, 2007

Professora de canto

Sempre cantei e não sei como porque nunca fiz aula pra isso. Talvez por isso não tenha técnica alguma e precise cantar com potência total. Não consigo cantar de outra forma. Atrapalho-me toda com abdomen, respiração e palato e pregas vocais e isso e aquilo. Minha única professora de canto chama-se Elis Regina Carvalho Costa. As aulas foram sempre com seus bolachões rodando na vitrola e, mais recentemente, com a tecnologia dos CDs. Seja qual for o suporte, ainda bem que existe possibilidade de ouvir esta cantora. Para longe dos sensos comuns, e para os que acham clichê gostar de Elis Regina, digo que tenho mais motivos do que "Romaria", "O Bêbado e a Equibrista", "Dois pra lá, dois pra cá" e "Trem Azul" para gostar de Elis. TAmbém não gosto dela por causa da Maria Rita. Graças a Deus a descobri muito antes desta onda de ressuscitar os mortos por falta de criatividade atual na música (o que também é uma mentira, já que há pérolas escondidas por aí e que a mídia não consegue mostrar, ainda que nada se crie e tudo se transforme). Mas voltando à Elis,e aproveitando que passei o último final de semana todo revendo sua discografia, darei aqui alguns argumentos para dizer que ela foi a maior cantora do Brasil.
Não, seu timbre não é mais bonito. Tem gente com voz muito mais bonita do que ela no Brasil, e como tem: Nana Caymmi, Maria Bethânia, Mônica Salmaso, Elizete Cardoso. Isso só para citar algumas.
O que a Elis tem que mais me impressiona é justamente a possibilidade de ser todas e não ser nenhuma delas. Um camaleão que se faz uma outra cantora a cada faixa de um mesmo disco. Você ouve e pensa "é a Elis?". Sim, e vê que é, porque sua essência está presente, mas cada vez de uma nova forma, seja cantando a la Ângela Maria, em "Vida de Bailarina", seja esbanjando rouquidão e sensualidade em "Me deixas louca", seja cantando tristonha e num fio de voz como em "Atrás da Porta" ou rasgando o verbo como em "Vou deitar e rolar".
Ouvir Elis não enjoa. Ela é sempre diferente. E não apenas no timbre. Também no repertório. Experimente vir ouvindo seus discos desde 1965...Tem samba, bossa, música regional, samba-rock, jovem guarda, tropicália, soul...Tem Ivan Lins, Gonzaguinha, Milton, Pixinguinha, Jorge Ben, Roberto Carlos, Caetano, Gil, João Bosco, Edu, Natan Marques, Chocolate, e Noel, e Adoniran Barbosa, e....Putz! Detalhe básico: muitos destes caras aí foi ela que lançou, tal como nosso João autor do tal Bêbado e da tal receita do bolero que manda dar dois passos para um lado e dois para o outro....
Ah, e como não achá-la a professora de canto brasileira mais completa? Sim, porque cantar bem não é só extensão vocal, não é só atinjir as notas mais altas. Quer ter aula de swing, de divisão? Cante samba junto com os discos da Elis. Atrasa, adianta, segura, inventa, improvisa, e dá um banho de musicalidade. Não é só um canário. É o músico da frente da banda. Cantora que canta como músico. Esta é a diferença. Talvez por isso as instrumentaões de seus discos sejam das mais ricas e modernas da Música Popular Brasileira. Talvez por isso até hoje todo instrumentista que se preze ouve seus discos pra ver se aprende um pouco mais com caras como o saudoso Luizão Maia, contrabaixista que acompanhou a Pimenta durante anos e anos.
Bom, fica aí a dica. Sei que todo mundo conhece Elis Regina, ao menos de nome. Ao menos por ela ter cantado "O Bêbado e a Equilibrista" e "Romaria". Mas experimente mais. Dê um pulinho lá em 1965, na época de Dois na Bossa. Ouça as gravações em que ela e Jair Rodrigues arrancam espamos do público do Teatro Paramount. Fiquem aqui com "Lapinha", cantada pela diva na década de 60,na Bienal do Samba. Letra de Paulo César Pinheiro e música de Baden Powell. É de arrepiar.

2 comentários:

Ronaldo Faria disse...

Morena, é bom tê-la de volta. Espero que esteja melhor. Se cuide. Sempre.
Ronaldo Faria

kcond disse...

vem cantar com a gente
bjs
Rodrigo ou Kcond?