05 fevereiro, 2010

Cultura Perdida

Hoje a capa de Ilustrada, da Folha, traz uma matéria intitulada "Tempo perdido", que comenta o fato das gravadoras - EMI, Sony, Warner, Universal e Som Livre - que detêm todo o acervo de música brasileira do século XX, estarem aposentando os projetos de reedição dos LPs em CD. Falando em termos mercadológicos, tudo a ver. Já virou chavão falar da crise das majors, de pirataria, de mp3, mp4, troca de música pela internet, etc, etc. E é claro que, com uma descoberta nova de tecnologia e suporte de tempos em tempos, era de se esperar que, passada a febre dos relançamentos em CD, a coisa ia esfriar e os caras iam parar de querer investir em algo que não dá dinheiro.
Mas pra mim, o título da matéria ficaria melhor como "Cultura perdida". Sim. Por que mais uma vez enterra-se parte da cultura brasileira nos acervos das grandes gravadoras. E lá, nestes acervos, os Lps que registraram talvez os momentos mais fecundos da nossa música não servirão para fazer com que o nosso povo ignorante e carente de boa música possa começar a gostar de algo melhor do que Bruno e Marrone. Se a questão da educação musical nas escolas é assunto controverso, o fato de grandes nomes da música, grandes compositores, grandes instrumentistas e gravações memoráveis estarem chafurdando no pó dos depósitos das grandes gravadoras é no mínimo desesperador para quem insiste em gostar de boa música e ter esperança de que um dia outras pessoas também possam, ao menos, conhecero que é boa música. Sim, porque ninguém é obrigado a gostar dos clássicos, nem de samba, nem de jazz, nem de Ary Barroso, Pixinguinha ou Ernesto Nazareth. Mas o inadimissível é que as pessoas nem conheçam quem são estas pessoas, não saibam nem do que se trata os responsáveis por todaa base musical brasileira. É inadimissível que o povo brasileiro venere e se mate por um ingresso para assistir à gostosona Beyouncé, sem saber quem é Jacob do Bandolim, ou Hermínio Bello de Carvalho. Papo de velho? Algo contra a Beyouncé? Particularmente sim, acho a música dela péssima, mas não vejo problema em alguém gostar dela. O problema, a meu ver, é as pessoas não saberem quem são os ícones da cultura de seu próprio país.
Situações como esta em que se encontra a indústria fonográfica, e pior, o fato das cinco majors - que hoje estão mais para elefantes brancos, porque estão ferradas e deveriam não mais existir e deixar as pessoas trocarem mesmo música pela internet e parar de querer dar murro em ponto de faca - serem detentoras de todo o acervo do que se produziu no Brasil no século passado, são fatores preocupantes e reforçam o pessimismo que bate quando vemos o Big Brother chegar à 10ª edição, a TV Cultura ter que apelar para doações de telespectadores e fazer concessões em sua programação para sobreviver. E a gente fica aqui, falando estas coisas como se fossemos uns velhos ranzinzas que não se adequam aos novos tempos.
Para provar o contrário, eu digo: ainda bem que existe a internet. Se aqui tem muito lixo, ao menos estes lps que ficaram e ficariam para sempre no "ostracismo" do baú das grandes gravadores vêm à tona pelas mãos de colecionadores ou outros poucos apaixonados que,como eu, acreditam que existe muito mais do que Beyoncé no mundo da música.

Um comentário:

Eduardo disse...

Segundo dia de férias e já dá pra notar que andou pensando muito, hein??? Da até pra notar o post maior, menos corrido... Eu e fosse você proporia um leilão dos direitos dos grandes ícones. Como não darão lucro, pelo menos estarão em melhores mãos.
Beijos