31 agosto, 2010

Conjugando meus tempos

Reparei que sempre que eu vivo algo muito bom eu tenho que reviver imediatamente, como numa espécie de replay, para saborear melhor o gosto, prolongar a sensação, não perder o momento. Costumo ler e reler bilhetes, cartas e mails de pessoas queridas várias vezes. Como o que às vezes é bom num momento se torna muito ruim em outro, tive que tomar medidas drásticas, algumas vezes, e deletar estes replays, uma vez que já não faziam mais sentido.
Dei-me conta disso na última viagem que fiz, minha primeira viagem internacional, para Buenos Aires. A cada dia eu passeava e andava, andava, olhava tudo tentando digerir e fotografava. E depois, por várias vezes, eu me voltava para a câmera e me pegava revendo as fotos que acabara de tirar, como se o momento vivido tivesse ficado ainda mais bonito na fotografia. Dei-me conta de que muitas vezes, ao ver uma paisagem linda, estonteante, ou estar entre amigos muito feliz, em vez de curtir plenamente aquele momento, eu fiquei preocupada em fotografá-lo, registrá-lo, marcá-lo em mim para que eu pudesse revivê-lo sempre que possível, vivendo novamente a mesma alegria, o mesmo prazer, a mesma emoção. Pudesse eu, fecharia minha gaiola de emoções e guardaria todas elas, sem perder nenhuma. Sim, porque vivo coisas novas, mas estou sempre olhando para trás, tentando não perder de vista e não apagar da memória o que vive imediatamente antes, ou às vezes muito antes.
Vou, assim, ficando como uma casa com várias mãos de tinta. Tem horas que já nem sei de que cor sou realmente.
O mesmo acontece com as fases da vida. Estou sentindo que realmente estou mudando, e não são transformações poucas não. Elas vieram com tudo. É como se ainda fosse eu, mas um eu bastante mudado. Esquisito demais. E a cada nova descoberta de mim mesma eu vou gostando, mas tenho dificuldade de simplesmente curtir esse meu eu novo. Fico sempre fazendo um movimento de me virar para trás, numa atitude que flerta com o nostálgico por muitas vezes, e que também se encontra com o medo do futuro, e do fim. Da morte, por si mesma, da morte simbólica de eras, tempos, pessoas, sonhos, ilusões. E fico brigando comigo mesma, parecendo não estar em tempo nenhum.
Justiça seja feita, acho que estou evoluindo no sentido de viver o agora. Mas ainda estou longe de achar a conjugação certa para o meu tempo: passado, presente ou futuro. Queria ser como o Vinícius, que diz que o tempo dele é "quando".

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